História do Morro do Hospício


O Morro do Hospício é uma área situada no Centro Histórico de São Francisco do Sul, Santa Catarina, entre as ruas Fernandes Dias, Quintino Bocaiuva, Manoel Lourenço de Andrade e Rafael Pardinho com 16.500 m2, aproximadamente. O Centro Histórico, constituído de casario que remonta ao período colonial, foi tombado em 16 de outubro de 1987 pelo Iphan (processo de tombamento n. 1.163-T-85/SPHAN), inscrito nos Livros do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e Histórico. Durante o processo de tombamento foram feitos estudos pela historiadora Marcia Regina R. Chuva e pelo arquiteto José Simões de B. Pessoa, profissionais do Iphan na época, a partir dos quais afirmam a importância da pesquisa arqueológica no Morro do Hospício e ainda que os remanescentes presentes no local, naquele momento, seriam do prédio. Devido à antiguidade e presença de ruína de antiga igreja, o Morro é considerado um sítio arqueológico histórico.

O projeto de prospecção foi realizado pela Univille a partir de contrato de prestação de serviço firmado com a Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul que prevê ainda a escavação arqueológica do sítio a realizar-se tão logo o Iphan emita parecer sobre o relatório da prospecção.

Para além do interesse na caracterização do sítio tendo em vista o empreendimento, o projeto teve como objetivo responder as seguintes questões: quais os tipos de ocupações se sucederam no Morro do Hospício: hospedaria, igreja e cemitério? Como as mudanças ocorreram ao longo do tempo e de que modo o espaço e suas diferentes funções integrou o território e a paisagem da Vila e depois cidade de São Francisco do Sul?

A partir do projeto urbanístico concebido e executado pela Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul e Programa Monumenta, do Iphan, foram implantados “passeios, espaços arborizados e vegetação paisagística, decks de contemplação, ilhas de descanso além de um edifício sede de apoio ao receptivo e administrativo do parque” (Memorial Descritivo 3 Cadernos de Encargos – Parque Ecológico Municipal - 2012, p. 2). Além das estruturas citadas, o projeto também contemplou obras de drenagem da elevação e iluminação.

São Francisco do Sul é a cidade mais antiga de Santa Catarina, reconhecida como Vila de Nossa Senhora da Graça de São Francisco em 1660. A despeito de relatos sobre o povoamento da baía da Babitonga ainda no século XIV, o mais provável é que as primeiras famílias, lideradas por Manoel Lourenço de Andrade, tenham aqui se estabelecido por volta de 1658. De acordo com Cabral, São Francisco foi a primeira fundação estável criada na costa catarinense, limitada ao norte com o Têrmo da Vila de Paranaguá, pela parte austral da baía de Guaratuba; e, ao sul, com o Têrmo da Vila de Laguna, pela parte norte da enseada das Garoupas (CABRAL, 1968).

Distante da Igreja Matriz 50 braças – cerca de 110 metros –, a história do Morro do Hospício teve início em 1681 com a edificação de uma capela sob a invocação de São José a partir da iniciativa de Isabel da Cunha que, segundo Pereira (2004), era viúva de Sebastião Alves Marinho, um dos povoadores da então Vila de São Francisco. Posteriormente, com a fundação da Ordem Terceira da Penitência do Padre São Francisco, a capela foi requerida pelo vigário João Batista de Azevedo

Com o tempo, a capela foi destruída para dar lugar à construção de um templo maior, levantando-se apenas as paredes laterais, o arco cruzeiro e a parede do fundo (COELHO, 1877 apud PEREIRA, 2004, p. 131). Além da ampliação da igrejinha, mandada edificar por Isabel da Cunha, a Ordem também teria construído uma residência – em local não especificado – para os religiosos considerando que o Governo da Metrópole não permitia no período a construção de conventos (ALEXANDRE, 1972, p. 46).

Segundo esta autora, o Morro do Hospício, assim como os demais e o mar, permitiu que essa região fosse resguardada, sendo estes também apontados como elementos importantes no momento do tombamento do Centro Histórico, discutido mais a frente.

A respeito da capela, ainda nesse período, tem-se o olhar do imigrante prussiano Theodor Rodowicz-Oswiecimsky que escreveu a obra A Colônia Dona Francisca no Sul no Brasil, relatando suas experiências como imigrante da antiga colônia (atual Joinville), local onde aportou em 1851. No relato desse estrangeiro, encontram-se informações e gravuras da Colônia, mas também da Vila de São Francisco, destacando-se na obra a mais antiga paisagem desenhada da cidade, registrada em papel.

Outro ponto a ser mencionado a respeito do local são os enterramentos de escravos e homens livres feitos na capela entre 1783 e 1825, registrados nos livros de óbitos da freguesia (JOINVILLE, 1783-1825), que totalizam 65 pessoas – 24 cativos e 41 livres.

Segundo os levantamentos de Teixeira e Lima (2003), muitas gerações, na sua infância, brincaram junto às ruínas ora desaparecidas, da Igreja de São José. E com o decorrer do tempo, essas ruínas foram se envolvendo em lendas, nas quais figuravam aparições de frades, tesouros enterrados e subterrâneos misteriosos (TEIXEIRA; LIMA, 2003, p. 6). De acordo com Ozório (2011, p. 18), histórias descrevem um longo túnel que ligaria a Igreja Matriz ao local da antiga capela e tesouros enterrados. Existe uma outra que conta sobre um homem negro, chamado Thiago, que juntamente com sua grande família, residia no morro, suscitando dúvidas e temores nas pessoas

De acordo com Pereira (2004), o arrasamento das velhas paredes da igreja de São José se deu com o pretexto que as ruínas davam à cidade uma impressão de decadência. Foi durante a gestão da Administração Municipal do Superintendente Municipal Dr. Eugênio Muller que, em 1921, foram demolidos os lendários paredões. Nas palavras de Silveira, com a destruição, “privou-se lamentavelmente, às gerações porvindouras, admirar aquele marco, para nós verdadeira relíquia, que bem sintetizava o trabalho, a tenacidade e principalmente, a fé dos nossos avoengos” (SILVEIRA, s.d).

Posteriormente às diversas alterações feitas no Morro do Hospício, a vegetação do local foi restabelecida, não sendo mais possível visualizar nas fotografias aéreas ou ainda feitas a partir da baía as ruínas das antigas construções ali implantadas.


REFERÊNCIA: 

- BANDEIRA, Dione da Rocha; BORBA, Fernanda Mara; ALMEIDA, Graciela Tules de. A HISTÓRIA DO MORRO DO HOSPÍCIO (SÃO FRANCISCO DO SUL): PRIMEIROS PASSOS DO ESTUDO NA PERSPECTIVA DA CULTURA MATERIALSalvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014, ISSN 2236-8736, n.3, v. 8, p. 119-136.

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